Illustration credit: Vecteezy

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Pescaria no Rio Araguaia - Pai, filho e os Gigantes Bagres de Goiás

Olá, amigos e leitores!
Quem pesca sabe: por vezes, a busca por uma captura torna-se um sonho - e efetivar essa captura, uma realização. E foi em busca da realização desse sonho que nossa equipe partiu, mais uma vez, rumo ao Rio Araguaia, nas proximidades do município de São Miguel do Araguaia - GO.

De novo e de novo, Araguaia

Exatamente um ano após nossa pescaria em maio de 2012 no mesmo local, eu (Pedro Daher) e meu pai (Hilton) decidimos retornar. Apesar das grandes capturas no ano anterior, o sonho da piraíba, a gigante prateada das águas do Corgão, insistia em não aparecer.
Em 2012, pudemos ver várias piraíbas fisgadas por outros pescadores, a semana parecia perfeita - bagrões atacando vorazmente, cardumes bem localizados e águas no nível ideal. Mas, retomo aqui a frase que encerra o relato de tal pescaria: "talvez - ainda - nos faltasse fé". Tudo acontece quando e como deve acontecer.
Dessa vez, a pescaria seria de pai e filho - e a estrada a ser percorrida, longa.
Saímos de Passos - MG numa fria manhã de maio de 2013, acompanhados de um primo, que iria conosco até Uberlândia - MG - cidade da nossa primeira parada. O sol já apontava no horizonte quando seguimos viagem. 


Seguimos viagem rumo ao cerrado goiano, e após muito chão - os famosos retões de Goiás -, alcançamos a cidade onde pernoitaríamos: Cidade de Goiás, terra natal da escritora Cora Coralina, antiga capital e uma das mais belas cidades do estado. 

Outra curiosidade do local é a presença do Rio Vermelho, famoso afluente do Araguaia, cortando o centro histórico da cidade. O ponto é conhecido pela quantidade de exemplares de bryconídeos (peixes do gênero das matrinxãs) que residem abaixo da ponte principal.
Como é de se imaginar, a pesca, mesmo que esportiva, é proibida no local. Mas isso não nos impediu de apreciar um pouco dessa beleza natural - o que aumentou nossa ansiedade para esticar as linhas. Foi como uma bela despedida, um até logo à bela cidade goiana. 


Reencontros e esperança

Após uma noite de descanso na Cidade de Goiás, seguimos viagem rumo a São Miguel do Araguaia.
Surpreendentemente, a viagem foi rápida e tranquila, devido a reformas feitas nas estradas - que, se no ano anterior estavam literalmente detonadas, nesse ano estavam impecáveis. Reconhecimento merecido ao governo do estado.

De São Miguel do Araguaia, seguimos para nosso destino final: Luiz Alves, o distrito de São Miguel que margeia o Rio Araguaia, há 45 km do centro da cidade.
Nossa opção de hospedagem foi o Hotel Beira Rio, administrado pelo amigo e parceiro Raimundo Vieira. Com quartos confortáveis, contando com televisão, geladeira e ar condicionado, fomos muito bem hospedados. Um local agradável que atende às necessidades de descanso após um desgastante dia de pesca.

Como a ansiedade era grande, peguei a primeira tralha que consegui arrumar e segui para o porto, em frente ao hotel. O objetivo? Arranhar uns spinners... Não preciso nem dizer que era um arremesso, duas ações... 

A noite seguiu ainda mais animada, com direito a um churrasco com os amigos pescadores de Patos de Minas - turma do Webim - que conhecemos no ano anterior. Enquanto eles encerravam a pescaria deles, nós iniciávamos a nossa. Deixo aqui meu obrigado a cada um deles!

Como pescaríamos com um dos guias que pescaram com eles - Tatinha da equipe Só Piraíbas -, o resultado da pescaria deles influenciaria nas nossas estratégias. As informações que tivemos foram abundância de cardumes, muitos peixes de escama, pirararas esporádicas e piraíbas simplesmente desaparecidas do rio, sem relatos de capturas na última semana.
Mesmo assim, não desanimamos. Bora começar a pescar!

Manhã que supera expectativas

No outro dia, bem cedo, eu e meu pai já estávamos no barco do Tatinha, a tempo de apreciarmos o lindo nascer do sol no Araguaia. 

Começamos buscando algumas matrinxãs e palmitos para usarmos de isca para os peixes de couro de grande porte, e também para almoçarmos. 
Vale aqui uma observação: tanto o nosso grupo quanto os com os quais conversamos notaram um aumento significativo na quantidade de peixes do Araguaia, e a responsabilidade foi atribuída de forma unânime à Lei 17.985/2013 de Goiás, ou Lei da Cota Zero, que proíbe o transporte de peixes no estado. O pescador ainda pode consumir determinadas espécies que não são protegidas por lei, mas apenas no local da pescaria e seguindo as medidas mínimas e máximas. Um importante passo para o desenvolvimento do pesque-e-solte no país. 
Acabamos sendo surpreendidos, pois não demorou muito e já estávamos com bons peixes fisgados. 



Iscas e almoço garantidos, partimos para a pesca dos peixes de couro. Optamos por iniciar nas pirararas, que estavam sendo fisgadas em maior frequência. A pescaria desse peixe é realizada em poços nas margens e próximos a galhadas, que são os ambientes preferidos da espécie, ao contrário das piraíbas, que preferem os baixios, canais dos rios e confluências de águas - mas, como pescaria é sempre uma caixinha de surpresas, tais peixes podem naturalmente dividir o mesmo espaço. 
Linhas soltas, barco apoitado, carretilhas nas secretárias, e, logo no primeiro ponto, minha vara envergou. Fisgada firme, corrida rápida e a chumbada sobe! Sinal de peixe bom, o Tatinha canta a pedra: "É piraíba! Não é grande, mas já é um filhote!".
Inacreditável! Vários dias caçando esse peixe em épocas propícias, e logo no primeiro ponto em uma semana em que tudo parecia conspirar contra, o sonho estava na ponta da linha!
Peixe cansado, já quase brotando na superfície, passamos ao lado de uma galhada e o Tatinha toca o barco para longe. Tarde demais, o peixe já havia se enroscado.
Tentamos de toda forma desenroscá-lo, inclusive chegamos a pegar a linha depois do enrosco e emendá-la, mas quando o peixe deu a última arrancada, o nó improvisado não resistiu e a linha estourou. Fazer o quê, só nos restava ter fé e continuar pescando...
Ponto seguinte, mais uma ação, e na minha vara, de novo. Agora, a briga mais pesada e lenta, indicava claramente uma pirarara. Parecia que a sorte estava ao meu lado. Ou não - de novo, perdemos o peixe para os enroscos.
E pela terceira vez consecutiva, a história se repetiu. Mais uma pirarara perdida, 3 a 0 para os bagrões... Ao menos estávamos tendo ações, bora continuar!
Como meta, ainda antes do almoço, queríamos embarcar uma pirarara. E foi no último ponto, praticamente em frente ao distrito de Luiz Alves, que realizamos tal proeza. Após botos e piranhas tomarem nossas iscas, o Tatinha arremessou um equipamento mais leve com uma cabeça de curimba no anzol, e acertou a fisgada na boca de um bom peixe! 

Como o local era mais profundo e relativamente distante das galhadas, eu pude brigar tranquilamente com o exemplar e sem soltar o barco. Mesmo assim, precisei de fazer muita força para o pequeno, porém primeiro, exemplar pranchear. 


Meta concluída, em menos de quatro horas de pesca quatro ações significativas e o primeiro peixe embarcado - e logicamente solto em seguida! 



Pai, filho e pirarara

Após o almoço, voltamos animados para o rio. Exploramos basicamente os mesmos pontos da parte da manhã, porém dessa vez com muitas ações de botos e piranhas, e nenhuma dos nossos objetivos principais. 
Somente no fim da tarde é que a vara envergou com propriedade e a corrida indicava peixe grande! O exemplar nadou para o meio do rio, confirmando ser já bem maior que a primeira captura. 


Pescaria entre pai e filho, nada mais justo do que dividirmos a briga com o primeiro exemplar digno de ser chamado de troféu da pescaria! Confiram no vídeo essa emoção: 
Enfim, a grande pirarara embarcada e solta! Um saldo excelente para um primeiro dia de pesca numa semana que não prometia muita coisa... 




Mesmo com os braços cansados, ainda tivemos fôlego para buscar algum peixe de couro de menor porte em uma das muitas praias do Araguaia. Não encontramos as cacharas, nossos objetivos naquele momento, mas fisgamos alguns jurupenséns ou bicos-de-pato, peixes que deram por encerrado nosso primeiro dia de busca pelos grandes bagres do Araguaia. 

Gigantes atrás dos cardumes

Dia seguinte, esperanças renovadas. A estratégia escolhida foi a de explorar com os equipamentos pesados os poços mais profundos por onde passavam cardumes de peixes como piaus e matrinxãs, e onde provavelmente as pirararas e piraíbas estariam buscando alimento. Enquanto isso, passaríamos o tempo fisgando os peixes de escama com equipamentos mais leves.
E não demorou muito para fisgarmos algumas matrinxãs usando filé de curimba como isca, num cardume rente às margens de uma região conhecida como Castor, bem próxima do distrito. 


Enquanto eu soltava o exemplar acima, um susto. Uma das carretilhas pesadas cantou alto, vara deitada no limite e peixe levando linha sem parar. Não, nem de longe parecia uma pirarara, muito menos uma piraíba "filhote". Com certeza era o peixe de nossas vidas.
O Tatinha fisgou, o peixe continuou, o guia me passou a tralha e deu as ordens: Dá umas chasqueadas que esse peixe ainda não sentiu o anzol nem correu direito! 
E foi o que fiz, dá-lhe fisgadas! Aí sim a carretilha cantou de vez, chegou a sair fumaça. Os quase quinhentos metros de linha no carretel aos poucos iam sumindo...
De repente, a linha bambeia um pouco, mas ainda tensionada e com sinal de peixe. Tatinha, experiente, afirma que o peixe estava subindo o rio e provavelmente achou alguma galhada. O coração gelou.
Recolhemos toda a sobra de linha e começamos a luta para conseguir "pescar" a linha acima dos enroscos, cortá-la e enfim dar continuidade à briga.
Foram vários minutos, que mais pareciam horas, e quando achávamos que o peixe já havia escapado, eis que ele resolve sair do meio dos enroscos e dar uma última corrida. Sentimos de novo o peixe na linha, achamos que enfim o troféu apareceria...
Mas não foi o que ocorreu. Para nosso espanto, essa última corrida foi forte o suficiente para estourar o cabo de aço, deixando-nos atônitos. Não era possível, nenhum outro barco no rio havia fisgado alguma piraíba, e o nosso que havia encontrado várias, não conseguiu retirar nenhuma da água.
Poderia ser o peixe de nossas vidas, mas ficou para a próxima. Bola para a frente, pescaria é assim.
Novas iscas, mesmo ponto. Em menos de dez minutos, outra ação, tão forte quanto a anterior, mas mais pesada e mais lenta, indicando possivelmente uma grande pirarara.

O palpite foi confirmado quando a gigante enfim apareceu próxima ao barco, mas ainda com muito fôlego para nos presentear com belas imagens e explosões dignas de molhar a câmera: 


Finalmente, o peixe se cansou, foi embarcado e colocado no meu colo! Uma pirarara enorme, digna de uma sessão de fotos evidenciando as lindas cores da espécie.




O restante do dia foi novamente em busca da piraíba, o troféu de prata que insistia em não aparecer. Enquanto a aguardávamos, arremessávamos os equipamentos mais leves com iscas vivas para fisgar os peixes de escamas encardumados, com destaque para a dourada ou apapá - espécie que, quando em cardume, como no caso em questão, propicia muita emoção e diversão para os pescadores, com ações incessantes.
Ainda tivemos mais algumas ações de prováveis piraíbas, mas que apenas lixaram as iscas vivas e não encostaram nos anzóis - sinal evidente de que os peixes estavam manhosos...



A Rainha de Prata

Terceiro dia de pesca e a busca incessante pela piraíba continuava. Dessa vez, a estratégia foi de capturar algumas matrinxãs para serem utilizadas como isca.
A pescaria dos grandes bagres é, por si só, envolvente em cada passo, de forma que até a captura das iscas se torna um momento muito divertido. Não preciso nem dizer que as fisgadas foram fartas quando encontramos um cardume se alimentando...



No meio de tantas matrinxãs e até algumas curimbas, uma surpresa - ou melhor, duas! Varas envergadas, brigas pesadas, diferentes e com corridas intensas e progressivas até nos fizeram cogitar um dublê de arraias. Mas o dublê foi de dois belos barbados para nos animar mais ainda! 

E foi no meio dessa pescaria de iscas na região da confluência do Araguaia com o grande afluente Rio Crixás, ou apenas "Barra do Crixás", alguns quilômetros acima de Luiz Alves, que avistamos uma piraíba pular inteira para fora da água - comportamento comum da espécie quando ela se estabelece em um poço ou ponto para caçar comida, e acredita-se que faça isso também para tentar eliminar algum candiru que entra em suas brânquias. Era o peixe que desejávamos, ele estava lá, bastava ir atrás. E foi o que fizemos.
Soltamos as iscas no poço onde o peixe havia pulado, abrimos os guarda-sóis para nos protegermos do intenso sol goiano, e aguardamos. Como de praxe, os peixes pequenos animaram a espera - dessa vez, meu pai fez a festa com os mandubés.


Por mais de duas horas, nenhuma ação nas varas mais pesadas, e meu pai e o Tatinha já cogitavam mudar de ponto. Porém, tudo acontece como deve ser, o peixe estava manhoso mas não era impossível fisgá-lo.
Confesso que nem pensei no fato acima quando resolvi comer uns biscoitos antes de mudarmos de ponto, e ainda dizer: Pescaria de piraíba é assim mesmo, tomar sol no meio do rio e muita paciência. 
Mas foi tal decisão que nos fez ficar um pouco mais no ponto, até que a vara que estava com o guia envergou levemente e ele disse: Eu disse que o peixe estava aqui, acabou de lamber a isca! 
Hábito comum da piraíba quando está manhosa, ela normalmente volta na isca após uns dez ou quinze minutos, tempo que decidimos gastar ali. Mas não foi necessário, em menos de um minuto a vara desceu lenta e continuamente, enfim a fisgada! Tatinha confirmou e me passou a vara, barco solto e briga iniciada.
Corridas rápidas e curtas na superfície e o peixe já mostrando sua nadadeira caudal centenas de metros rio abaixo e na ponta da linha indicavam um exemplar não tão grande, mas ainda assim era a piraíba, o sonho enfim fisgado!
Dessa vez, a briga era no canal do rio, numa região sem galhadas, o que tornava baixíssimas as chances de perder o exemplar em alguma galhada, o que nos tranquilizou e nos permitiu brigar com tranquilidade - nesse caso, todos do barco batalham com a piraíba, é uma briga exaustiva devido ao tamanho e força do peixe e à quantidade de linha solta a ser recolhida.
E claro que não poderíamos deixar de registrar a briga e a soltura da piraíba!


Embarcamos o exemplar e seguimos para uma praia na margem para fazermos os registros fotográficos e depois soltá-lo recuperado.


A linda piraíba, ainda um filhote para a espécie, cravou exatos 143 cm. Uma marca que sem dúvida ficará em nossas memórias eternamente.


Independentemente do tamanho, fisgar uma piraíba é a realização do sonho máximo de um pescador de peixes de couro. No meu caso, um sonho de infância agora em meus braços foi uma das sensações mais incríveis que já senti em anos de pescaria.
O relato dessa pescaria também foi publicado no site da Revista Pesca Esportiva, e o destaque da foto na edição 216 de outubro de 2015 da revista. 


Não preciso nem dizer que o resto do dia foi dedicado a apreciar o Araguaia, rio que ensina e presenteia, além de exibir sua preservada e exuberante beleza literalmente natural. 


O Troféu do Meu Velho - Um capítulo à parte

Embora a pescaria já tivesse superado nossas expectativas e o sonho realizado, ainda faltava uma captura para tornar tudo perfeito: o troféu do meu pai.
Ele, um apaixonado por pirarara, queria fisgar um exemplar na vara dele, e tinha que ser na vara dele! Exigência difícil de ser cumprida? Que nada!
No fim da tarde, voltando para o distrito, o Tatinha garantiu que faríamos nossa captura. O ponto escolhido foi um canal raso com muitas galhadas na margem, e o horário era propício.

Não demorou muito para que a vara do meu velho envergasse no limite! Fisgada forte, peixe respondendo com uma corrida intensa rumo às galhadas e riscando as águas rasas enquanto tentava se livrar do anzol.
Pensamos que seria fácil dominar o exemplar e nem soltamos o barco, até que a carretilha, mesmo sendo adequada para tal pescaria, simplesmente travou! O peixe aproveitou de tal momento para se enroscar nos saranzais da margem, e foi aí que enfim soltamos o barco.
Devido à correria para não perder o peixe, não conseguimos filmar a briga, mas o que importa é que conseguimos desenroscá-lo até com certa facilidade, apenas forçando para que ele virasse a cara, e embarcamos o exemplar! Uma linda, forte e colorida pirarara, o peixe que faltava, exatamente como Meu Velho queria!



Se o registro da briga não foi possível, o vídeo da soltura dessa fera nós fizemos questão de fazer!


Em três dias de pescaria, tínhamos fisgado tudo o que sonhávamos e mais! Tudo acontece como e quando deve ser. Se antes talvez nos faltasse fé, agora a tínhamos de sobra. Araguaia, rio que ensina. Mais uma vez foi meu professor, ensinando a enxergar a pescaria, a vida com mais leveza, a ver de verdade. Sem obsessão, uma segunda chance. Sem obsessão, sonhos realizados.

100% na superfície

Quarto dia de pesca, hora de diversificar. Decidimos entrar no Lago da Montaria, um lago de fácil acesso e muito conhecido na região. Minha meta era pescar apenas com iscas de superfície, basicamente usando pequenos poppers com hélices.
Acabamos encontrando o lago mais cheio do que imaginávamos, o que complicou um pouco a busca pelos peixes. 

Só que o Araguaia não decepciona. E acabamos encontrando um cardume de aruanãs nadando bem na superfície, o que nos rendeu belas ações. Infelizmente, nenhum peixe embarcado, mas explosões e saltos que ficarão registradas eternamente em nossas mentes. Além das aruanãs, várias piranhas-vermelhas, algumas enormes, resolveram atacar as iscas de superfície. 
Mas foi já na saída do lago que eu consegui a explosão desejada. Paramos o barco para pegarmos algumas iscas vivas, e eu simplesmente coloquei o popper na água, com apenas uns 50 cm de linha para fora da carretilha, e fiz barulho com a isca para tentar atrair alguma piranha, passar o tempo mesmo. Só que fui surpreendido por um lindo tucunaré que saiu do meio da vegetação, atacou a isca com uma voracidade impressionante e saiu tomando linha e saltando diversas vezes. Afrouxei a fricção e trabalhei devagar, esse tinha que sair para as fotos - e saiu! Um grande amarelo do Araguaia, o legítimo rei dos lagos.


Após a empreitada no lago, fomos almoçar na beira do rio. Almoço típico com sabor de pescaria: peixe na brasa, arroz e tomate, e muita amizade. Acabamos acompanhando uma turma de amigos pescadores, a mesma que havia capturado a grande piraíba mostrada no relato da pescaria do ano anterior no mesmo local. Curiosamente, dessa vez, ao contrário do ano anterior, eles não estavam tendo sucesso na pesca dos grandes bagres - tudo acontece como e quando deve acontecer...

Na parte da tarde, mais fisgadas na superfície. Dessa vez, buscamos as cachorras-facão e douradas, utilizando tanto iscas vivas deixadas na superfície por pequenas boias de arremesso quanto pequenos sticks e plugs de hélice de até 8 cm de comprimento. Em ambas as modalidades, os peixes explodiram na superfície!





Enquanto isso, as varas pesadas continuavam na água. Porém, como tudo acontece nos modo e momento exatos, não obteríamos mais sucesso nessa modalidade nos dias seguintes - tivemos algumas ações e até peixes perdidos, mas nenhum embarcado... De qualquer forma, já havia valido a pena.
E no meio dessa espera, mais douradas, algumas enormes! Sem dúvida, uma pescaria extremamente esportiva e divertida, peixes coadjuvantes que se tornam protagonistas de uma viagem que, se por si só já valeria a pena, regada a sonhos concretizados, havia ganhado o título de perfeita, de pai e filho.
E o dia continuou dourado até o sol desaparecer.


Nas praias do Corgão

Quinto dia de pescaria, mais uma vez tentaríamos uma pescaria diferente. A estratégia da vez era descer o rio pela primeira vez na semana e explorar a pescaria ao redor das diversas e famosas praias do Araguaia. 
No percurso, a bela Natureza de sempre que o Corgão nos presenteia e nos permite admirar durante todo o tempo em que ousamos navegar por suas águas. 


Beira de praia, primeiro ponto. Linhas dos equipamentos leves na água, usando isca de minhoca. E não demorou muito para que fisgássemos espécies que até então não tinham aparecido.
Primeiro, meu pai fisgou uma cachara já de bom porte para os padrões do Araguaia, e em seguida, quase que fazendo um dublê, fisguei um exótico e forte armau, o primeiro da minha vida. 


Seguimos explorando os poços profundos atrás de grandes bagres durante o dia, mas não obtivemos nenhuma ação.
A expectativa alimentada era para o fim de tarde, em que caçaríamos mais peixes batendo nas beiras de praia, usando no anzol iscas vivas ou filés de peixe à deriva. E enfim chegou a hora de realizarmos tal pescaria.


Nessa modalidade, as ações são fartas. Realmente não dá para saber o que vai entrar, e as brigas são sempre muito divertidas. (Confesso que meu desejo era fisgar uma bargada ou surubim-chicote, mas esse peixe insiste em fugir de mim, fica para a próxima...) 

Segundo os guias, é dessa forma que são fisgadas as maiores cachorras-largas do Araguaia - fato que pudemos confirmar no ano anterior -, e realmente fisgamos um belo exemplar. 

Entre matrinxãs, cachorras e até bicos-de-pato, o astro da pescaria em beiras de praia no Araguaia demorou a aparecer, mas nos últimos instantes de pescaria ele achou a isca: a cachara! 

Premiados pelas diversidade e fartura do Araguaia e satisfeitos pelos resultados, ainda tínhamos energia para um último dia. 

Despedida Dourada

No sexto dia de pesca, escolhemos repetir a pescaria com iscas naturais nos cardumes de apapás - ou douradas - e cachorras-facão enquanto aguardávamos algum peixe de grande porte. E as fisgadas foram fartas. 



Era só arremessar e esperar, às vezes os peixes atacavam a isca logo quando essa batia na água. Entre saltos, corridas e explosões, muitos dublês e até triplês, como o que registramos: 


Foram tantas fisgadas que as iscas simplesmente acabaram, então continuamos com iscas artificiais de meia-água de sete centímetros até a hora do almoço, o que nos garantiu mais fisgadas!


Na parte da tarde, com os braços cansados, resolvemos buscar apenas os grandes bagres, e acabamos tendo duas ações: uma suposta pirarara que se enroscou nas galhadas do poço e acabou escapando, e um peixe bem maior, provavelmente uma gigante piraíba, que correu muito e simplesmente abriu o anzol, deixando-nos perplexos.
Faz parte, tudo a seu tempo. Por ora, sonhos realizados. O Araguaia e seus gigantes estarão nos esperando para uma revanche. E o rio fez questão de se despedir de nós com o pôr do sol característico que faz jus à alcunha de poente mais belo do país, numa espécie de despedida a desejar boa viagem de volta - além de, é claro, um evidente convite ao retorno...

Por Pedro Daher